29 de novembro de 2023 02:00
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COLUNA: Brasil e China: Negócios em Dólar; Um novo Bretton Woods

Foto: Getty Images

Economia & Política, por Ismael Mendonça

Houve anos em que o maior parceiro de negócios do Brasil foi a Argentina, em outro momento foram os Estados Unidos, também a União Europeia, mas na última década a maior parceira econômica brasileira tem sido a China. O país asiático chega a comprar 31% de nossas exportações em alguns momentos.

Dada a relevância dessa parceria, e sabendo que no âmbito dos negócios internacionais as trocas comerciais há décadas têm sido feitas a partir do dólar, um acordo Brasil – China que prevê a autonomia frente ao uso ou não do dólar é, de longe, algo interessante economicamente.

O dólar é uma moeda valiosa, mas seu uso para trocas internacionais pode ser visto como desnecessário, pois, na prática, há diversas formas de você fazer negócios internacionais. Os países mais pobres podem usar uma das mais antigas formas, que é o escambo. Sim, o escambo é utilizado em negócios internacionais até hoje.

Dito isso, o uso do dólar tem sido comum desde 1944 como mera imposição dos americanos, pois durante a segunda guerra mundial os países europeus saíram destruídos, assim como o Japão, a China e as coreias, foi quando os americanos promoveram uma reunião com dezenas de países na cidade de Bretton Woods para definir novas formas de negócios internacionais. Dentro das definições estava a prática do uso do dólar como moeda de troca entre as nações.

Falidos e precisando de financiamentos, os países aceitaram a proposta, o que eles não esperavam é que os próprios americanos teriam problemas com sua moeda em função dos gastos públicos e iriam “bagunçar” o acordo duas décadas depois.

Portanto, o uso do dólar hoje pode ser visto como desnecessário, antiquado e até mesmo caro por alguns países que não têm boas reservas cambiais, como por exemplo: Argentina, Venezuela e Turquia.

Em suma, assumir o compromisso de não mais usar o dólar para trocas é uma saída interessante, mas não está livre de problemas futuros. A China propôs conversão e liquidez entre o real e o renminbi com lastro no ouro, assim os países serão capazes de garantir a troca com base em caixas de suas próprias moedas em seus bancos centrais para que os exportadores e importadores possam fazer uso.

A ideia é boa, mas prevê que a saúde dessas economias e de suas moedas precisam se manter minimamente estáveis, já que esse é um esquema similar ao Bretton Woods, com a diferença que no modelo da década de 1940 as outras moedas só poderiam variar 1%, para mais ou menos, frente ao dólar. Aqui, no modelo sino-brasileiro o foco é o ouro e não há limite de desvalorização para as moedas, neste sentido de lastro.

Por fim, sabendo que a balança comercial China-Brasil é positiva para nós, uma questão que será importante é acompanhar como se movimentará nossas reservas em dólares, pois uma menor entrada de dólar como papel-moeda poderá afetar o montante de nossas reservas para negociação com outros países.

 

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