Economia & Política, por Ismael Mendonça
A história dos automóveis fabricados no Brasil inicia em 1919, quando Henry Ford decide abrir uma subsidiária em terras tupiniquins, como forma de atender a uma demanda local. Antes, seus carros já chegavam aqui via importação, desde 1904. O modelo era o Ford T, o primeiro carro fabricado sob os métodos do “fordismo”, sistema de produção elaborado por Ford inspirado no taylorismo, que virou sinônimo de produção em massa.
Uma das premissas do fordismo era a especialização do trabalhador, para que cada um tomasse seu lugar na esteira de produção e, com isso, pudessem fabricar muitos carros em poucos minutos. Para isso, o fordismo previa a contratação de uma massa imensa de pessoal. Fábricas com milhares de pessoas.
Esse método tensionou o sistema capitalista ao extremo e a partir da década de 1940 começa a ser substituído pelos métodos toyotistas de produção que, dentre outras coisas, prevê a generalização dos funcionários. Para desenvolver seu método, os japoneses fazem intercâmbio com os americanos, diga-se de passagem. Portanto, podemos dizer que o toyotismo é um fordismo aperfeiçoado. Entretanto, o toyotismo é averso a ideia da contratação de mão de obra. É aqui que inicia o processo de sucateamento das leis trabalhistas, inclusive; porém, não irei me estender.
O leitor mais desatento pode estar perguntando: onde Ismael Azevedo quer chegar?
Acredito que Lula queira voltar lá atrás, início do século XX, mesmo tendo proposto fazer um mandato pensando no século XXI.
Então, quero expressar que a ideia lulista de elaborar um “carro popular” está intimamente ligada com o pensamento, que é: a partir da produção em massa, venderemos em massa, e as empresas terão de contratar mão de obra.
Esse pensamento é tão simplista, e anacrônico, que nos cabe fazer só uma pergunta básica: este pensamento de produção é típico dos novos tempos?
Atualmente, o que limita o consumo de novos carros e que tem inquietado o presidente são os altos valores que eles têm. Todavia, os carros se tornaram impagáveis aos populares por motivos outros, que foram pandemia e guerra na Ucrânia, a priori. Estes dois problemas mundiais levaram os capitais financeiros e ampliarem seus juros em função dos riscos de financiamento. Também, o fechamento de fábricas por muitos meses promoveu a dificuldade de encontrar semicondutores, material essencial à fabricação de quase tudo – inclusive carros.
Quando o presidente acredita que é apenas a dinâmica da produção e do financiamento que fará o país crescer, ele esquece que esse método tensiona a população a conviver com um intenso endividamento. A convivência com o endividamento é uma armadilha cruel, haja vista que um simples susto econômico fará muita gente se tornar inadimplente.
E, agora, me cabe uma segunda pergunta, que é: como fica a questão ambiental que é tão própria do século XXI?
Carros populares dificilmente serão elétricos. Afirmo tranquilamente, pois é uma questão de custo e da logística de abastecimento nacional. Não temos postos para carros elétricos espalhados país adentro, só grandes centros apresentam; ainda que limitados.
Por fim, a mim cabe dizer que ao falar sobre possibilidade de desenvolvimento de carros populares como forma de movimentar a economia, Lula põe o país numa tremenda contramão. A fala não tem o menor sentido para o ano de 2023, me perdoem, preciso reforçar que é demasiadamente anacrônico.